Um general de Napoleão na encosta do Corcovado

O primeiro estrangeiro a morar no morro do inglês, percorrido atualmente pela Ladeira do Ascurra, no alto do Cosme velho, foi o general holandês Dirk Van Hogendorp, chegado à cidade em 1817, aos 56 anos.

Personagem importante na história política e militar da Europa, notabilizou-se como administrador das colônias holandesas na Indonésia. Foi ministro da guerra de seu país, mas com a incorporação da Holanda à Europa napoleônica ingressou nas hostes francesas como general do exército de Napoleão. Depois da surpreendente evasão do corso da Ilha de Elba de novo juntou-se a ele e foi seu braço direito na batalha de Waterloo. Dedicando desmedida devoção a seu líder, pretendeu acompanha-lo no exílio em Santa Helena, o que lhe foi negado. Decidiu então embarcar para o Rio de Janeiro, porto próximo da Ilha e com forte participação no seu abastecimento.

Duas versões se contrapõem sobre a estada desse general na cidade. Numa delas o militar holandês impossibilitado de fazer companhia ao grande Corso em Santa Helena exilara-se voluntariamente no Brasil, deprimido e decidido a isolar-se no alto do Cosme Velho, fugindo à sociedade dos homens. Outra versão, mais condizente com sua personalidade sugere ter vindo Hogendorp para o Rio de Janeiro já sabedor de alguma forma de plano para resgatar Napoleão da ilha de Santa Helena. Realmente após a derrota de Waterloo mais de mil oficiais franceses haviam se exilado nos Estados Unidos, e lá se encontravam tendo como único pensamento libertar o imperador de seu cativeiro. Entrementes a Inglaterra acompanhava de perto a movimentação dos oficiais das forças de Napoleão, com especial atenção para Hogendorp, seu mais credenciado general. O cônsul geral inglês teria sido informado de sua vinda, e incumbido de "aprisionar o general mantendo-o recluso nos ermos do Corcovado, e sob vigilância.

Ainda hoje restam resquícios das simplíssimas instalações do general no alto da Ladeira do Ascurra, mas isso é assunto para outro texto.

*José Pougy é engenheiro aposentado e morador antigo do bairro. Em 2009 lançou o livro "O BAIRRO DAS ÁGUAS FÉRREAS No tempo em que Carioca era um rio, a Rainha bebia na fonte e Cosme Velho não era velho" e atualmente faz pesquisas para um novo livro, agora sobre o bairro de Laranjeiras. Está colecionando histórias e segredos das ruas, do casario e das vilas do bairro para discorrer sobre sua formação e sua evolução até os dias de hoje. Colaborador deste site.